Não há limite para a ganância dos bancos no Brasil. O setor que mais explora e mais lucra mostrou mais uma vez que na hora de negociar a remuneração de seus trabalhadores, os resultados obtidos valem apenas para os acionistas das instituições.
O Comando Nacional dos Bancários teve nesta quarta-feira, dia 15, a quarta rodada de negociações da Campanha Salarial 2010. A reunião, ocorrida em São Paulo, tratou de questões como o reajuste salarial de 11%, Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de três salários mais R$ 4 mil, elevação do piso de R$ 1.074 para R$ 2.157 (salário mínimo do Dieese), aumento do vale-refeição, cesta-alimentação e auxílio creche/babá, auxílio-educação, dentre outros itens. Na avaliação do diretor da Fetrafi-RS, Arnoni Hanke, a rodada desta semana começou devagar. “Obtivemos negativas para todas as propostas. Os bancos não deixam de lado a sua arrogância costumeira e a única resposta que podemos dar é a nossa mobilização”, observa.
Hanke destaca que, ironicamente, os banqueiros alegam que a lucratividade obtida no primeiro semestre não foi extraordinária. “Diversas economias estão em crise pelo mundo, mas aqui vai tudo muito bem, principalmente para os bancos e seus spreads. Queremos negociar os temas relativos à remuneração com seriedade e não vamos tolerar enrolação da Fenaban”, avisa o dirigente sindical.
Já presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Juberlei Baes Bacelo, que também participou da negociação, disse que os representantes dos bancos não apresentaram nada, somente ouviram as reivindicações e prioridades do Comando e prometem apresentar uma proposta na próxima semana.
“Apesar da lucratividade nas alturas, acima de empresas de petróleo e gás, não reconhecem que constituem o setor mais rentável do país. Vamos esperar pelo que eles vão nos apresentar, mas se não for o que a categoria deseja, vamos para a greve para poder avançar em nossas reivindicações”, afirma o presidente.
Argumentos dos bancos contrastam com números do setor
A economia brasileira deve crescer mais de 7% em 2010 e a situação dos bancos é ainda melhor. Apenas as cinco maiores instituições financeiras (BB, Itaú, Bradesco, Caixa e Santander) tiveram lucro líquido de R$ 21,3 bilhões no primeiro semestre. Foi um crescimento de 32% em relação ao lucro do mesmo período do ano passado. Já o Banrisul, teve um lucro líquido de R$ 305 milhões, com crescimento de 44% comparado ao mesmo período de 2010.
Esses lucros gigantescos se devem, entre outras razões, ao aumento da produtividade dos bancários, submetidos a uma brutal pressão para cumprir metas inatingíveis, invariavelmente sob assédio moral e às custas do adoecimento cada vez mais generalizado dos trabalhadores. Na média, 1.200 bancários são afastados por mês por licença-saúde concedidas pelo INSS, metade deles vítimas de LER/DORT ou transtornos mentais.
Bancos querem tempo
Os bancos não apresentaram propostas para as reivindicações de aumento real de salário, valorização dos pisos e plano de carreira, cargos e salários. Mesmo conhecendo as reivindicações há mais de um mês, os negociadores da Fenaban disseram que ainda precisam de mais um tempo para discutir as demandas com os bancos, antes de apresentar uma proposta.
As negociações sobre remuneração prosseguem nesta quinta-feira 16, a partir das 10h. As discussões irão tratar de PLR, vale-refeição, cesta-alimentação, auxílio creche/babá, auxílio-educação, previdência complementar para todos os bancários, 14º salário e adicional de risco de vida, entre outros temas.
Defesa do reajuste
O Comando Nacional defendeu na mesa de negociação a reivindicação de reajuste salarial de 11%, o que garante a inflação do período mais aumento real. Os representantes dos bancários argumentaram que as empresas financeiras podem atender com folga essa demanda.
Negativa infundada
Os bancos repetiram o que o diretor de Relações de Trabalho da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), Magnus Apostólico, já havia antecipado em entrevista ao jornal O Globo no último sábado, dia 11, quando declarou que "11% de aumento é inviável". Para ele, essa proposta não tem viabilidade diante de uma inflação sob controle.
Os representantes dos bancários salientaram que não se trata apenas de uma questão de índices inflacionários, mas sim de dividir com os trabalhadores os ganhos de produtividade.
Piso igual ao mínimo do Dieese
O Comando Nacional também insistiu na necessidade de valorização e de criação de novos pisos salariais para a categoria, que passariam a ter os seguintes valores:
R$ 1.510 para portaria
R$ 2.157 para escriturário (salário mínimo do Dieese)
R$ 2.913 para caixas
R$ 3.641 para primeiro comissionado e
R$ 4.855 para primeiro gerente "Mostramos aos bancos que o piso de R$ 1.074 pago hoje é muito baixo e absolutamente incompatível para um sistema financeiro tão lucrativo, porque não cobre as necessidades básicas do trabalhador, que tem família, tem que pagar faculdade e ainda se vestir à altura das exigências das empresas", diz Carlos Cordeiro, presidente da Contraf/CUT.
PCCS em todos os bancos
A existência de um plano de carreira, cargos e salários permite ao trabalhador planejar a sua ascensão profissional, conhecendo os critérios objetivos e as competências que os cargos exigem. Esse é um tema de extrema importância para a categoria hoje, sobretudo nos bancos privados, diante da ausência de regras claras e transparentes para as promoções e a valorização dos trabalhadores. Foi a primeira vez que o assunto foi discutido em profundidade em uma negociação com a Fenaban.
Os bancos não querem incluir uma cláusula sobre PCCS na Convenção Coletiva, alegando que a política de gestão de competências e resultados varia de banco a banco. No entanto, aceitaram proposta de realização de um seminário com participação de especialistas indicados pelos dois lados, para aprofundar a discussão sobre os modelos de administração por competência.
Fonte: Imprensa Fetrafi/RS com informações da Contraf/CUT e SindBancários
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