terça-feira, 11 de setembro de 2012

Sindicalista diz que patrões vendem discurso de crise

O presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Mauro Salles, tece comentário sobre o o que está levando perto de 1 milhão de trabalhadores à greve no país em reportagem sob o título "AMEAÇA DE GREVE: Quase 1 milhão cobram aumento", do jornalista Caio Cigano, publicada na página 18 da edição de Zero Hora, de quinta-feira, 6 de setembro. Num país que cresce e que instituições financeiras públicas e privadas lucram como nunca, os trabalhadores não aceitam mais "o discurso de crise" para negar avanços.

Confira a íntegra da reportagem:
Amparadas por reajuste de 14% do salário mínimo, resultados das recentes greves de servidores federais e alto índice de aumentos acima da inflação no primeiro semestre, ao menos 14 categorias negociam dissídios coletivos em setembro, representando cerca de 1 milhão de pessoas.

O mês, de tradicionais embates liderados por sindicatos com poder de interferir no cotidiano da população, concentra o período de reivindicações de classes aguerridas, como bancários, petroleiros e metalúrgicos.
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que, nos seis primeiros meses do ano, 97% das negociações tiveram como resultado reajuste acima da inflação para os trabalhadores, o mais alto índice da série histórica de acompanhamento das campanhas salariais, iniciada em 1996.

Da mesma forma, foi recorde o aumento real médio de 2,23% obtido pelas categorias, apesar da trajetória de desaceleração da economia. Com os primeiros sinais de retomada aparecendo, incluindo na indústria, a tendência é de que 2012 feche como o melhor ano para os trabalhadores nas negociações com os patrões, diz José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese nacional.

– No segundo semestre, há negociações de grandes categorias, enquanto o crescimento da massa salarial continua, o mercado de trabalho permanece aquecido e aparece a perspectiva de melhora no quadro de emprego até na indústria – afirma Oliveira, que entretanto não vê a possibilidade de uma onda de greves a exemplo da verificada no funcionalismo público nos primeiros meses.

Para Anselmo Luis dos Santos, diretor adjunto do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os trabalhadores contam com o emprego em alta como um dos principais trunfos nas negociações salariais deste ano.

– Quando o desemprego está baixo, isso ajuda tanto a base quanto a liderança (sindical) a ter uma posição mais ativa nas negociações. As empresas têm dificuldade de repor mão de obra, e conceder reajuste real (acima da inflação) é uma forma de evitar a saída de trabalhadores, principalmente dos qualificados – avalia Santos.

Entre as principais categorias em campanha salarial, a dos bancários, com 500 mil trabalhadores no Brasil, pede 5% de reajuste acima da inflação. No último encontro a Federação Nacional dos Bancos ofereceu 6%, mas incluindo a inflação. Como nesse caso o ganho real seria inferior a 1%, o índice foi rejeitado pela categoria, que ameaça iniciar uma greve no dia 18 deste mês.

– Apesar do discurso de crise, as campanhas salariais estão tendo aumento real significativo. Inclusive de categorias de setores com rentabilidade bem menor que a dos bancos – afirma Mauro Salles Machado, presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (Sindbancários), um dos integrantes da mesa de negociações com os bancos em São Paulo.

Outra categoria de peso é a dos petroleiros, com cerca de 80 mil trabalhadores. A reivindicação é um reajuste de 10% acima da inflação. Os metalúrgicos do ABC paulistas decidiram programar um dia de paralisação para pressionar os patrões. Segundo o Dieese, variam de 2,5% a 10% os pedidos de aumento real nas negociações coletivas no segundo semestre.

Virou regra
A cada ano, cresce a fatia das negociações com aumento real, segundo o Dieese:
2000: 51,5%
2001: 42,3%
2002: 25,8%
2003: 18,8%
2004: 54,9%
2005: 71,7%
2006: 86,3%
2007: 87,7%
2008: 76,6%
2009: 79,5%
2010: 88,2%
2011: 86,7%
2012: 97%*
*Primeiro semestre

As principais categorias e suas reivindicações de aumento real:
Bancários
5% (além da inflação).
São 500 mil no país.
A categoria entrou em greve nos últimos oito anos e em todas as oportunidades conseguiu reajustes salariais reais.

Petroleiros
10% (além da inflação).
80 mil no país.
É a categoria que está pedindo o maior reajuste real. Iniciou a campanha salariale fixou o dia 11 de setembro o prazo para receber as respostas das reivindicações.

Metalúrgicos
Em definição. Trabalhadores paulistas decidiram que vão pedir aumento real (acima da inflação), mas ainda não fecharam um valor.
Mais de 100 mil no ABC paulista.
Apenas a Confederação Nacional dos Metalúrgicos, ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), tem cerca de 800 mil filiados, embora em algumas regiões a data-base seja no primeiro semestre. No caso das montadoras do ABC paulista, o acordo fechado ano passado ainda vale para 2012.
 

*Zero Hora xom edição da Fetrafi-RS

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