Depois
de mostrar-se pequeno na mesa de negociação, o Banco do Brasil passou a
utilizar o truque do constrangimento e da ameaça para tentar reduzir o
efeito da greve em suas agências. No mês de agosto, com a paralisação
iminente, o banco publicou a Instrução Normativa 379 para atacar a
estabilidade do servidor do BB e instituir a demissão e o
descomissionamento por ato de gestão.
Na prática, qualquer gestor do
banco pode agora demitir qualquer funcionário por qualquer motivo. Na
manhã da quarta-feira, 19 de setembro, um ato em frente à
Superintendência Varejo, em Porto Alegre, denunciou a manobra. O efeito
dela é ampliar a pressão por metas e o adoecimento ético entre os
bancários.
Por cerca de três horas, funcionários da própria Superintendência, de
outras agências fechadas durante a greve e representantes do
SindBancários percorreram os quatro andares do prédio da administração
geral do RS. Em frente ao endereço da sede, na Rua Honório da Silveira
Dias, 1.830, sucederam-se manifestações de sindicalistas e funcionários
indignados com a ameaça do BB em tempos de greve.
“Essa instrução é um retrocesso. Os bancários e o próprio banco têm
uma história de construção de normas para proteger o trabalhador e o
banco agora desconstrói isto. Não precisa mais de inquérito para
demitir. O BB agora, mais do que nunca, vai ficar igual a banco
privado”, analisou o presidente do SindBancários, Mauro Salles.
A norma, na prática, deixa de exigir que seja instaurado um inquérito
para apurar suspeitas de ilícito e extingue a investigação por período
entre 90 a 120 para fundamentar alguma decisão administrativa, como
demissão ou punição. Um dos efeitos é aumentar a injustiça, uma vez que,
não são raros os casos em que chefes acusam funcionários de erros e, na
verdade, o erro é de funcionamento do sistema de gestão.
O efeito da mudança não será sentido apenas na visão empresarial, que
prioriza os lucros dos acionistas. A IN 379 vai incidir diretamente na
saúde do trabalhador. “A norma elimina o inquérito administrativo. A
demissão por ato de gestão dá poder aos chefes e tem por objetivo
fragilizar a condição do bancário e a saúde. O banco pensa a sua gestão
como orientada por uma violência organizacional de banco privado”,
avaliou a diretora de saúde do SindBancários, Karen D’Ávila.
O SindBancários tem orientado a categoria a enfrentar a pressão
contra a greve com mobilização. “Estamos pressionados. Todo mundo tem
família, precisa trabalhar e do seu salário. Não estamos fazendo greve
contra os gestores, mas contra a administração do banco”, disse a
diretora do SindBancários Cris Garbinatto.
Para o diretor do SindBancários, Julio Vivian, essa IN reedita uma
das práticas de pressão e assédio mais duras da época do neoliberalismo,
durante a gestão FHC. “Demonstra claramente a truculência e desrespeito
do BB com seus funcionários. Numa empresa que adota práticas pouco
éticas na sua relação, tanto com clientes e funcionários, é comum casos
que os estudiosos têm chamado de adoecimento ético.”, disse o dirigente.
Segundo ele, esse tipo de doença é fruto da cobrança “ truculenta de
metas abusivas e inatingíveis. A introdução de mais essa ferramenta de
intimidação nos expõe a condições de trabalho cada vez mais desumanas, o
que é inadmissível em um governo eleito pelos trabalhadores, ainda mais
às vésperas da deflagração de uma greve", acrescenta Júlio Vivian.
“Agora é a hora de lutar pela saúde”
Durante ao ato da manhã desta quarta-feira, uma colega de uma
agência do BB de Porto Alegre pediu espontaneamente o microfone e fez o
seguinte depoimento. O nome dela é Margarete. É uma funcionária do Banco
do Brasil que está em greve e na ativa, mas sofreu muito com o
adoecimento ético. Confira o depoimento dela:
“Sou funcionária do Banco do
Brasil há muitos anos. Muitos dos colegas que aqui estão me conhecem.
Sempre cumpri minha função de funcionária pública, que é cuidar bem do
nosso cliente e do banco público. Mas chegou uma hora que a minha
dedicação começou a comprometer a minha saúde. A dedicação que eu tinha
ao meu trabalho e que era exigida passou a ser maior do que aquilo que
eu podia oferecer. Então comecei a tomar antidepressivos e remédio para
dormir. E, mesmo tomando remédio para dormir, eu acordava no meio da
noite, preocupada e pensando: ‘Não consegui fazer aquilo para aquele
cliente’. Penso que esta greve é o momento de lutarmos pela nossa saúde.
Inclusive, botei isto na minha carta de descomissionamento: 'Essa
situação não está me agradando. Vou cuidar da minha saúde’. Claro que a
gente tem a família, os filhos e precisa do salário para viver, mas
também tem a saúde. O dinheiro é muito importante sim, mas a saúde é
mais. Pensem nisso. Agora é a hora de lutar por isso. É hora de lutar
pela nossa saúde.”
Fonte: SindBancários
Nenhum comentário:
Postar um comentário