quinta-feira, 20 de setembro de 2012

BB ataca greve com norma que permite demissão sumária e adoecimento ético

Depois de mostrar-se pequeno na mesa de negociação, o Banco do Brasil passou a utilizar o truque do constrangimento e da ameaça para tentar reduzir o efeito da greve em suas agências. No mês de agosto, com a paralisação iminente, o banco publicou a Instrução Normativa 379 para atacar a estabilidade do servidor do BB e instituir a demissão e o descomissionamento por ato de gestão. 

Na prática, qualquer gestor do banco pode agora demitir qualquer funcionário por qualquer motivo. Na manhã da quarta-feira, 19 de setembro, um ato em frente à Superintendência Varejo, em Porto Alegre, denunciou a manobra. O efeito dela é ampliar a pressão por metas e o adoecimento ético entre os bancários.
Por cerca de três horas, funcionários da própria Superintendência, de outras agências fechadas durante a greve e representantes do SindBancários percorreram os quatro andares do prédio da administração geral do RS. Em frente ao endereço da sede, na Rua Honório da Silveira Dias, 1.830, sucederam-se manifestações de sindicalistas e funcionários indignados com a ameaça do BB em tempos de greve.
“Essa instrução é um retrocesso. Os bancários e o próprio banco têm uma história de construção de normas para proteger o trabalhador e o banco agora desconstrói isto. Não precisa mais de inquérito para demitir. O BB agora, mais do que nunca, vai ficar igual a banco privado”, analisou o presidente do SindBancários, Mauro Salles.
A norma, na prática, deixa de exigir que seja instaurado um inquérito para apurar suspeitas de ilícito e extingue a investigação por período entre 90 a 120 para fundamentar alguma decisão administrativa, como demissão ou punição. Um dos efeitos é aumentar a injustiça, uma vez que, não são raros os casos em que chefes acusam funcionários de erros e, na verdade, o erro é de funcionamento do sistema de gestão.
O efeito da mudança não será sentido apenas na visão empresarial, que prioriza os lucros dos acionistas. A IN 379 vai incidir diretamente na saúde do trabalhador. “A norma elimina o inquérito administrativo. A demissão por ato de gestão dá poder aos chefes e tem por objetivo fragilizar a condição do bancário e a saúde. O banco pensa a sua gestão como orientada por uma violência organizacional de banco privado”, avaliou a diretora de saúde do SindBancários, Karen D’Ávila.
O SindBancários tem orientado a categoria a enfrentar a pressão contra a greve com mobilização. “Estamos pressionados. Todo mundo tem família, precisa trabalhar e do seu salário. Não estamos fazendo greve contra os gestores, mas contra a administração do banco”, disse a diretora do SindBancários Cris Garbinatto.
Para o diretor do SindBancários, Julio Vivian, essa IN reedita uma das práticas de pressão e assédio mais duras da época do neoliberalismo, durante a gestão FHC. “Demonstra claramente a truculência e desrespeito do BB com seus funcionários. Numa empresa que adota práticas pouco éticas na sua relação, tanto com clientes e funcionários, é comum casos que os estudiosos têm chamado de adoecimento ético.”, disse o dirigente.

Segundo ele, esse tipo de doença é fruto da cobrança “ truculenta de metas abusivas e inatingíveis. A introdução de mais essa ferramenta de intimidação nos expõe a condições de trabalho cada vez mais desumanas, o que é inadmissível em um governo eleito pelos trabalhadores, ainda mais às vésperas da deflagração de uma greve", acrescenta Júlio Vivian.

“Agora é a hora de lutar pela saúde”
Durante ao ato da manhã desta quarta-feira, uma colega de uma agência do BB de Porto Alegre pediu espontaneamente o microfone e fez o seguinte depoimento. O nome dela é Margarete. É uma funcionária do Banco do Brasil que está em greve e na ativa, mas sofreu muito com o adoecimento ético. Confira o depoimento dela:
 
“Sou funcionária do Banco do Brasil há muitos anos. Muitos dos colegas que aqui estão me conhecem. Sempre cumpri minha função de funcionária pública, que é cuidar bem do nosso cliente e do banco público. Mas chegou uma hora que a minha dedicação começou a comprometer a minha saúde. A dedicação que eu tinha ao meu trabalho e que era exigida passou a ser maior do que aquilo que eu podia oferecer. Então comecei a tomar antidepressivos e remédio para dormir. E, mesmo tomando remédio para dormir, eu acordava no meio da noite, preocupada e pensando: ‘Não consegui fazer aquilo para aquele cliente’. Penso que esta greve é o momento de lutarmos pela nossa saúde. Inclusive, botei isto na minha carta de descomissionamento: 'Essa situação não está me agradando. Vou cuidar da minha saúde’. Claro que a gente tem a família, os filhos e precisa do salário para viver, mas também tem a saúde. O dinheiro é muito importante sim, mas a saúde é mais. Pensem nisso. Agora é a hora de lutar por isso. É hora de lutar pela nossa saúde.”
 

Fonte: SindBancários

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