quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Com lucros acima de R$ 25 bi, bancos podem atender pauta dos bancários

Sistema financeiro lucra com prestação de serviços e tarifas.

Os balanços dos seis maiores bancos que atuam no país mostram um lucro líquido conjunto de R$ 25,2 bilhões no primeiro semestre deste ano, 1,20% maior que o resultado em igual período de 2011, mesmo com a manobra contábil de superdimensionar as provisões para devedores duvidosos diante de uma inadimplência estável e com viés de queda.
"Os bancos usaram o truque de maquiar os balanços para esconder o lucro, mas mesmo assim os resultados foram superiores aos do ano passado. Isso mostra que o sistema financeiro nacional passou longe da crise e está mais sólido do que nunca, principalmente em razão do aumento da produtividade dos trabalhadores", avalia Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários. "Não há, portanto, nenhuma razão para os bancos não atenderem às reivindicações da categoria."

Entre junho de 2011 e junho deste ano, segundo o Banco Central, a inadimplência cresceu apenas 0,7 pontos percentuais na média do setor financeiro e aponta tendência de queda no próximo período.

Veja na tabela como foi a variação da inadimplência do Itaú, do Banco do Brasil, do Bradesco, da Caixa, do Santander e do HSBC. Apesar disso, eles aumentaram de forma descabida as provisões para devedores duvidosos.

O Itaú, por exemplo, provisionou o equivalente a uma vez e meia o lucro líquido do período. O provisionamento do BB chegou a quase duas vezes o lucro líquido, o Santander duas vezes e meia e o HSBC mais de três vezes.

"Isso significa que os lucros reais dos bancos têm sido ainda maiores do que estão divulgando nos balanços. Um dos objetivos desse truque é reduzir a PLR dos bancários", diz Carlos Cordeiro.

O sistema financeiro também aumentou os ganhos com receitas de prestação de serviços e com tarifas bancárias, que cobrem com muita folga as folhas de pagamento de todos os bancos (veja na tabela abaixo).

Pisos baixos X remuneração milionária dos executivos

Os bancos que operam no Brasil são os mais rentáveis do mundo, remuneram seus executivos com bônus milionários, mas pagam salários mais baixos que vários países da América do Sul.

Pesquisa realizada pela Contraf-CUT junto a entidades sindicais da América do Sul mostra que, em 2010, o piso salarial dos bancários brasileiros era de R$ 1.250,00, o equivalente a US$ 735 (ou 6,1 dólares a hora trabalhada). No Uruguai, o piso salarial do bancário era US$ 1.039 (8 dólares a hora) e na Argentina era quase o dobro dos brasileiros: US$ 1.432 (9,8 dólares por hora).
Em contrapartida, a remuneração dos altos executivos do sistema financeiro está entre os mais altos do mundo.

A remuneração do Bradesco para os altos executivos chegou a R$ 4,24 milhões na média. E o Itaú remunerou seus diretores estatutários com R$ 14,14 milhões na média. Importante ressaltar que, exceto o Santander, nenhum desses bancos informou quanto os administradores embolsaram em 2011 com os ganhos em ações.

"Aqui no Brasil estão os maiores lucros dos bancos, inclusive dos estrangeiros, e as maiores remunerações dos executivos. Por que os salários dos bancários brasileiros estão entre os piores?", questiona Carlos Cordeiro. "São práticas absurdas como essas que tornam o Brasil um dos 12 países com a pior concentração de renda do mundo, ao mesmo tempo em que ostenta o sexto lugar no ranking das maiores economias. É inadmissível que isso continue."

Rotatividade corta empregos e reduz remuneração

Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) realizada trimestralmente pela Contraf-CUT e Dieese mostra que o setor bancário gerou 2.350 empregos no primeiro semestre de 2012, uma redução de 80,40% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram criadas 11.978 vagas.

O levantamento revela que entre janeiro e junho os bancos contrataram 23.336 empregados e desligaram 20.986.

Já a remuneração média dos admitidos foi de R$ 2.708,70 e a dos desligados de R$ 4.193,22, o que representa uma diferença de 35,40%. Na economia brasileira, como um todo, a diferença entre a média salarial dos contratados é 7% inferior à média salarial dos demitidos.

É por isso que, apesar de a categoria bancária conquistar com luta 13,9% de aumento real no salário e de 31,7% no piso salarial de 2004 a 2011, nesse mesmo período o salário médio do bancário brasileiro teve ganho acima da inflação de apenas 3,64%.

O instrumento da rotatividade é um truque que os bancos usam para reduzir a massa salarial da categoria.

"Essa alta rotatividade nos bancos é uma jabuticaba, na medida em que só existe no Brasil, sendo utilizada para travar a expansão da massa salarial e aumentar ainda mais os lucros", denuncia Cordeiro. "Por isso a garantia de emprego contra demissões imotivadas é outra reivindicação importante da campanha nacional deste ano."
 
Fonte: Contraf-CUT

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