quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Metas abusivas e assédio motivaram demissões de bancários em 2012

Ao todo, 1.416 trabalhadores foram desligados, sendo que 705 pediram demissão.

 A pressão por metas abusivas, o assédio moral, perseguição aos bancários e bancárias mais experientes por conta de seus salários relativamente mais altos do que a média repercutiram no comportamento dos bancários e bancárias gaúchos em 2012. Nos primeiros nove meses de 2012, entre o universo de demissões, metade (49,8%) foram voluntárias. Dos 1.416 trabalhadores desligados, no período analisado por estudo do Dieese, 705 pediram demissão. Outros 42,02% de desligamentos foram demissões sem justa causa.

Na soma, 91,81% das demissões nos bancos gaúchos entre janeiro e setembro de 2012 ocorreu por vontade própria do trabalhador ou por que ele foi mandado embora. Sinal de que os bancos estão perdendo o seu maior patrimônio é a elevada taxa de pedidos voluntários de demissão. Quase metade decidiu, por livre e espontânea vontade, largar a agência em que trabalha e, quem sabe, a carreira de bancário. Outra faceta negativa: perda da perspectiva de especializar. Os bancos buscam enxugar a máquina (leia-se reduzir custos) apostando na rotatividade. A lei é buscar gente nova no mercado (salários mais baixos) e descartar patrimônio intelectual que os próprios bancos criaram e investiram por muitos anos.

As conclusões e os dados que ilustram o comportamento de bancos públicos e privados no que se refere à oferta de trabalho no Rio Grande do Sul foram levantados pela Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) da Subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese), publicada em dezembro, com dados do Caged, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os números reforçam essas duas tendências, a saber, descontentamento com a profissão e política de gestão para reduzir custos de mão de obra.

Outra conclusão do estudo refere que o volume e o saldo de empregos criados em relação às vagas fechadas em 2012 na comparação com 2011 foi pequeno. O número de vagas criadas nos bancos gaúchos cresceu apenas 1,41% de janeiro a setembro nos dois anos analisados. O estudo refere que, nos primeiros nove meses de 2012, foram criados 1.153 novos empregos nas agências bancárias gaúchas, apenas 16 a mais do que no mesmo período do ano passado (1.137). O saldo é baixo. Ainda mais se forem considerados os motivos e computadas as cerca de 40 dispensas no Santander, em Porto Alegre e Região Metropolitana, nas vésperas de Natal. No total, 2.569 postos de trabalho foram criados, enquanto 1.416 foram fechados até setembro de 2012.
 A média mensal nos primeiros nove meses de 2012 foi de 128,1 de saldo de empregos ante 126,5 de média em 2011. Apesar do sensível crescimento da oferta global em 2012, os motivos pelos quais os trabalhadores são desligados ou se desligam e o perfil levam à conclusão de que a política de gestão dos bancos foi investir na rotatividade. Funcionários de salários mais altos, com mais tempo de casa, estiveram entre os que tiveram demissão elevada em 2012.


O caso do Santander é ilustrativo dessa tendência, embora as demissões em massa desse banco no final do ano não tenham sido computadas no estudo do Dieese. Em novembro, o banco espanhol iniciou um processo de demissão em massa. Somente na área do SindBancários, Grande Porto Alegre e Região Metropolitana, 44 funcionários foram demitidos. O perfil predominante foi de bancários e bancárias mais experientes. Muitos dos quais, incapacitados para o trabalho, o que motivou reversões de 12 demissões.

“Os bancos parece não aprenderem. Tanto os públicos como os privados agem praticamente do mesmo modo. Assediam, constrangem os trabalhadores e trabalhadoras. Exigem metas abusivas, que são inatingíveis e não se preocupam com a formação de capital intelectual e nem com a saúde dos trabalhadores. Isso é perigoso. Estamos vendo que a maior parte dos trabalhadores desligados não quer mais ser bancário”, diz a secretária-geral do SindBancários, Rachel Weber.

Entre expectativas e piso
Apesar de ressaltar que são necessários estudos mais aprofundados para determinar com maior precisão a motivação dos trabalhadores quando pensam em mudar de vida ou carreira, o estudo do Dieese não deixa dúvida ao analisar os dados. Os bancos perdem seu maior patrimônio porque exploram, assediam, criam metas abusivas e não criam expectativa positiva em relação a uma carreira sólida tanto financeira quanto do ponto de vista da oferta de qualidade de vida.

Trabalhadores estressados costumam desenvolver doenças por esforço repetitivo e, muitas vezes, nem sabem disso. “Quanto ao percentual elevado dos Desligamentos a Pedido, podemos supor que as condições de trabalho não satisfazem as expectativas desses trabalhadores, seja pelas condições de remuneração ou pelas cobranças e pressões no cumprimento de metas muitas vezes inatingíveis”, resume o estudo do Dieese na página 3.

Ao final, o estudo também sugere que o movimento sindical passe a reivindicar maiores percentuais de reajustes no piso salarial. Isso porque o desligamento de trabalhadores mais experientes (salários mais altos) serve para que trabalhadores mais jovens (de salários menores) ingressem nas agências para reduzir custos corporativos. Daí a importância de reivindicar maior piso, uma vez que há um número crescente de trabalhadores recebendo o salário base.

“Há muito tempo que os sindicatos avisam os bancos sobre esse fato. Além de usarem a rotatividade para reduzir custos, os bancos pagam pouco a quem está entrando. Que perspectivas terá um jovem que ingressa agora num banco de ter uma carreira sólida e bem remunerada se os bancos usam a demissão como ferramenta de gestão? Os bancos precisam parar com esta política estúpida de apostar apenas no lucro. Tem que preservar o trabalho, um patrimônio difícil de formar, e que exige alto investimento. Mas eles não querem saber disso. Não importa para os bancos que a qualidade do atendimento aos usuários também caia”, acrescenta Rachel Weber.
Outros motivos
Se quase 92% dos trabalhadores se demitiram voluntariamente ou foram demitidos nos bancos do Rio Grande do Sul, nos primeiros noves meses de 2012, quais foram os percentuais das outras causas de desligamentos? Aposentadoria (4,31%) e demissões com justa causa (2,47%) seguem-se aos dois principais motivos. Morte (0,85%) e término do contrato (0,56%) fecham o levantamento.

Meses do ano
Para obter-se o saldo mensal de emprego bancário, deve-se subtrair o número de demissões do volume de vagas criadas a cada mês (Gráfico). Esse indicador serve para demonstrar que entre os postos de trabalho criados e fechados houve superávit em todos os 21 meses dos últimos dois anos que o estudo cobre no Rio Grande do Sul. No entanto, a média do saldo nos primeiros nove meses de 2012 registrou queda sensível em relação ao mesmo período de 2011. De janeiro a setembro do ano passado, registrou-se, por mês, a média de 128,1 de saldo positivo. O mesmo período de 2011 teve um saldo positivo de 131,5 em média.

Quer dizer, apesar do mês de setembro de 2012, data-base dos bancários, ter sido o mês de saldo mais positivo (330 novos postos de trabalho além das demissões), o ano de 2012 também teve o segundo mês de pior saldo dos últimos 21 meses. Em março, apenas 27 empregos sobraram entre as vagas abertas e fechadas, volume apenas maior do que o saldo de 22 do mês de maio de 2011. Fevereiro, março, maio e julho tiveram o pior saldo em 2012, com média de 36,2. Portanto, estes quatro meses foram marcados por um alto volume de demissões ou baixo de admissões. Nos 21 meses analisados entre 2011 e 2012, o mês de maio foi o que menos empregos teve como saldo positivo, 61 (Gráfico).

Segundo o estudo, os saldos positivos de agosto e setembro de 2012, superiores aos outros meses do ano, demonstraram outro aspecto do comportamento das demissões e admissões nos bancos gaúchos. Houve um crescimento significativo de agências criadas, sobretudo pelo Banrisul. Daí um aumento necessário no volume de trabalhadores para atender em novas agências.

Tipo de banco
O estudo do Dieese também traz o comportamento do saldo do emprego bancário por tipo de banco. Do superávit de 1.153 postos de trabalho, 1.150 podem ser debitados nas contas dos Bancos Múltiplos com Carteira Comercial (852) e das Caixas Econômicas (298). Essas duas categorias admitiram bem mais do que demitiram nos primeiros nove meses de 2012 na comparação com os Bancos Comerciais (-29), Bancos Múltiplos sem carteira comercial (31) e Bancos de Investimento (1).
Fonte: SindBancários

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