Ao todo, 1.416 trabalhadores foram desligados, sendo que 705 pediram demissão.
A
pressão por metas abusivas, o assédio moral, perseguição aos bancários e
bancárias mais experientes por conta de seus salários relativamente
mais altos do que a média repercutiram no comportamento dos bancários e
bancárias gaúchos em 2012. Nos primeiros nove meses de 2012, entre o
universo de demissões, metade (49,8%) foram voluntárias. Dos 1.416
trabalhadores desligados, no período analisado por estudo do Dieese, 705
pediram demissão. Outros 42,02% de desligamentos foram demissões sem
justa causa.
Na soma, 91,81% das
demissões nos bancos gaúchos entre janeiro e setembro de 2012 ocorreu
por vontade própria do trabalhador ou por que ele foi mandado embora.
Sinal de que os bancos estão perdendo o seu maior patrimônio é a elevada
taxa de pedidos voluntários de demissão. Quase metade decidiu, por
livre e espontânea vontade, largar a agência em que trabalha e, quem
sabe, a carreira de bancário. Outra faceta negativa: perda da
perspectiva de especializar. Os bancos buscam enxugar a máquina (leia-se
reduzir custos) apostando na rotatividade. A lei é buscar gente nova no
mercado (salários mais baixos) e descartar patrimônio intelectual que
os próprios bancos criaram e investiram por muitos anos.
As conclusões e os dados que ilustram o comportamento de bancos
públicos e privados no que se refere à oferta de trabalho no Rio Grande
do Sul foram levantados pela Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) da
Subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Econômicos (Dieese), publicada em dezembro, com dados do Caged, do
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os números reforçam essas duas
tendências, a saber, descontentamento com a profissão e política de
gestão para reduzir custos de mão de obra.
Outra conclusão do
estudo refere que o volume e o saldo de empregos criados em relação às
vagas fechadas em 2012 na comparação com 2011 foi pequeno. O número de
vagas criadas nos bancos gaúchos cresceu apenas 1,41% de janeiro a
setembro nos dois anos analisados. O estudo refere que, nos primeiros
nove meses de 2012, foram criados 1.153 novos empregos nas agências
bancárias gaúchas, apenas 16 a mais do que no mesmo período do ano
passado (1.137). O saldo é baixo. Ainda mais se forem considerados os
motivos e computadas as cerca de 40 dispensas no Santander, em Porto
Alegre e Região Metropolitana, nas vésperas de Natal. No total, 2.569
postos de trabalho foram criados, enquanto 1.416 foram fechados até
setembro de 2012.
A média mensal nos primeiros nove meses de 2012 foi de 128,1 de saldo
de empregos ante 126,5 de média em 2011. Apesar do sensível crescimento
da oferta global em 2012, os motivos pelos quais os trabalhadores são
desligados ou se desligam e o perfil levam à conclusão de que a política
de gestão dos bancos foi investir na rotatividade. Funcionários de
salários mais altos, com mais tempo de casa, estiveram entre os que
tiveram demissão elevada em 2012.
O caso do Santander é ilustrativo dessa tendência, embora as
demissões em massa desse banco no final do ano não tenham sido
computadas no estudo do Dieese. Em novembro, o banco espanhol iniciou um
processo de demissão em massa. Somente na área do SindBancários, Grande
Porto Alegre e Região Metropolitana, 44 funcionários foram demitidos. O
perfil predominante foi de bancários e bancárias mais experientes.
Muitos dos quais, incapacitados para o trabalho, o que motivou reversões
de 12 demissões.
“Os bancos parece não aprenderem. Tanto os
públicos como os privados agem praticamente do mesmo modo. Assediam,
constrangem os trabalhadores e trabalhadoras. Exigem metas abusivas, que
são inatingíveis e não se preocupam com a formação de capital
intelectual e nem com a saúde dos trabalhadores. Isso é perigoso.
Estamos vendo que a maior parte dos trabalhadores desligados não quer
mais ser bancário”, diz a secretária-geral do SindBancários, Rachel
Weber.
Entre expectativas e piso
Apesar de ressaltar que são necessários estudos mais aprofundados
para determinar com maior precisão a motivação dos trabalhadores quando
pensam em mudar de vida ou carreira, o estudo do Dieese não deixa
dúvida ao analisar os dados. Os bancos perdem seu maior patrimônio
porque exploram, assediam, criam metas abusivas e não criam expectativa
positiva em relação a uma carreira sólida tanto financeira quanto do
ponto de vista da oferta de qualidade de vida.
Trabalhadores estressados costumam desenvolver doenças por
esforço repetitivo e, muitas vezes, nem sabem disso. “Quanto ao
percentual elevado dos Desligamentos a Pedido, podemos supor que as
condições de trabalho não satisfazem as expectativas desses
trabalhadores, seja pelas condições de remuneração ou pelas cobranças e
pressões no cumprimento de metas muitas vezes inatingíveis”, resume o
estudo do Dieese na página 3.
Ao final, o estudo também sugere
que o movimento sindical passe a reivindicar maiores percentuais de
reajustes no piso salarial. Isso porque o desligamento de trabalhadores
mais experientes (salários mais altos) serve para que trabalhadores mais
jovens (de salários menores) ingressem nas agências para reduzir custos
corporativos. Daí a importância de reivindicar maior piso, uma vez que
há um número crescente de trabalhadores recebendo o salário base.
“Há
muito tempo que os sindicatos avisam os bancos sobre esse fato. Além de
usarem a rotatividade para reduzir custos, os bancos pagam pouco a quem
está entrando. Que perspectivas terá um jovem que ingressa agora num
banco de ter uma carreira sólida e bem remunerada se os bancos usam a
demissão como ferramenta de gestão? Os bancos precisam parar com esta
política estúpida de apostar apenas no lucro. Tem que preservar o
trabalho, um patrimônio difícil de formar, e que exige alto
investimento. Mas eles não querem saber disso. Não importa para os
bancos que a qualidade do atendimento aos usuários também caia”,
acrescenta Rachel Weber.
Outros motivos
Se quase 92% dos trabalhadores se demitiram voluntariamente ou
foram demitidos nos bancos do Rio Grande do Sul, nos primeiros noves
meses de 2012, quais foram os percentuais das outras causas de
desligamentos? Aposentadoria (4,31%) e demissões com justa causa (2,47%)
seguem-se aos dois principais motivos. Morte (0,85%) e término do
contrato (0,56%) fecham o levantamento.
Meses do ano
Para
obter-se o saldo mensal de emprego bancário, deve-se subtrair o número
de demissões do volume de vagas criadas a cada mês (Gráfico). Esse
indicador serve para demonstrar que entre os postos de trabalho criados e
fechados houve superávit em todos os 21 meses dos últimos dois anos que
o estudo cobre no Rio Grande do Sul. No entanto, a média do saldo nos
primeiros nove meses de 2012 registrou queda sensível em relação ao
mesmo período de 2011. De janeiro a setembro do ano passado,
registrou-se, por mês, a média de 128,1 de saldo positivo. O mesmo
período de 2011 teve um saldo positivo de 131,5 em média.
Quer
dizer, apesar do mês de setembro de 2012, data-base dos bancários, ter
sido o mês de saldo mais positivo (330 novos postos de trabalho além das
demissões), o ano de 2012 também teve o segundo mês de pior saldo dos
últimos 21 meses. Em março, apenas 27 empregos sobraram entre as vagas
abertas e fechadas, volume apenas maior do que o saldo de 22 do mês de
maio de 2011. Fevereiro, março, maio e julho tiveram o pior saldo em
2012, com média de 36,2. Portanto, estes quatro meses foram marcados por
um alto volume de demissões ou baixo de admissões. Nos 21 meses
analisados entre 2011 e 2012, o mês de maio foi o que menos empregos
teve como saldo positivo, 61 (Gráfico).
Segundo o estudo, os saldos positivos de agosto e setembro de
2012, superiores aos outros meses do ano, demonstraram outro aspecto do
comportamento das demissões e admissões nos bancos gaúchos. Houve um
crescimento significativo de agências criadas, sobretudo pelo Banrisul.
Daí um aumento necessário no volume de trabalhadores para atender em
novas agências.
Tipo de banco
O
estudo do Dieese também traz o comportamento do saldo do emprego
bancário por tipo de banco. Do superávit de 1.153 postos de trabalho,
1.150 podem ser debitados nas contas dos Bancos Múltiplos com Carteira
Comercial (852) e das Caixas Econômicas (298). Essas duas categorias
admitiram bem mais do que demitiram nos primeiros nove meses de 2012 na
comparação com os Bancos Comerciais (-29), Bancos Múltiplos sem carteira
comercial (31) e Bancos de Investimento (1).
Fonte: SindBancários