quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Comando cobra mais segurança, mas bancos não priorizam proteção à vida

Apesar da sensação de insegurança, dos sequestros e do aumento das mortes em assaltos envolvendo bancos, a Fenaban tratou com profundo descaso as reivindicações de segurança bancária defendidas pelo Comando Nacional dos Bancários nesta quarta-feira 27, na segunda rodada de negociação da Campanha 2014, em São Paulo. A rodada continua nesta quinta-feira 28, a partir das 9h, para discutir igualdade de oportunidades.

Insegurança


O Comando apresentou os dados da Pesquisa Nacional de Mortes em Assaltos envolvendo Bancos, feita pela Contraf-CUT e CNTV,
com apoio do Dieese, mostrando que 32 pessoas foram assassinadas nos primeiros seis de 2014, uma média de cinco casos por mês, o que significa um aumento de 6,7% em relação a igual período de 2013. Os clientes representam 68,8%das vítimas, quase todos mortos em "saidinha de banco". 


Os dirigentes sindicais também mostraram os números da Pesquisa Nacional de Ataques a Bancos, elaborada pela Contraf-CUT, CNTV e Fetravisp, com apoio do Dieese. No primeiro semestre deste ano foram verificadas 1.693 ocorrências, sendo 403 assaltos e 1.290 arrombamentos, uma média de nove casos por dia, que representam um crescimento de 9,1% em relação ao mesmo período do ano passado. 


Esse número de assaltos é mais do que o dobro da estatística semestral da Febraban, que apurou 186 ocorrências no mesmo período. Os bancos questionaram a pesquisa do movimento sindical, feita com base em notícias da imprensa, dados disponíveis de secretarias estaduais de segurança e informações de sindicatos de bancários e vigilantes. "Como dissemos na mesa de negociação, estamos à disposição para conferir os números dos dois levantamentos para apurar essa grande diferença", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional.


Gastos de segurança representam 8,6% dos lucros


O Comando e os bancos também divergiram a respeito dos despesas das empresas em segurança. Estudo do Dieese com base nos balanços das cinco maiores instituições financeiras mostra que elas gastaram R$ 2,4 bilhões em segurança e vigilância no primeiro semestre deste ano, para um lucro líquido de R$ 28,3 bilhões, o que representa uma média de 8,6%. 


Os bancos questionaram o número dos gastos, afirmando que ele não contempla despesas com transporte de valores. O Comando, então, propôs que os bancos sejam mais transparentes e detalhem os gastos com segurança nos seus balanços.


Projeto-piloto


O Comando e a Fenaban fizeram um balanço positivo do projeto-piloto de segurança bancária conquistado na Campanha 2012 e implantado em agosto do ano passado em Recife, Olinda e Jaboatão de Guararapes. 


Segundo dados da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, o número de roubo a bancos caiu pela metade (de 16 para 8) no Estado entre janeiro a julho de 2014 em comparação com o mesmo período do ano passado. Em relação à "saidinha de banco", o número de ocorrências também diminuiu de 131 para 113 nas três cidades abrangidas no período, o que representa uma redução de 8,6%. 


Em razão desses avanços, os bancários agora querem incluir na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) as medidas testadas e aprovadas no projeto-piloto, tais como porta giratória com detector de metais, câmeras internas e externas, biombos em frente aos caixas, guarda-volumes e vigilantes armados e com coletes balísticos, de forma que sejam estendidos para agências e postos de atendimento em todo o país.


Os negociadores da Fenaban disseram que levarão a reivindicação para apreciação dos bancos.


Prevenção contra sequestros


O Comando enfatizou a necessidade de prevenção contra sequestros diante do alto número de casos em todo o país, cujas principais vítimas são gerentes e tesoureiros. "Defendemos o fim da guarda das chaves de agências e postos de atendimento por bancários ou por vigilantes, reivindicando que a abertura e o fechamento de cada estabelecimento sejam feitos por empresas especializadas em segurança ou então que isso seja realizado por controle remoto", destaca Ademir Wiederkehr, secretário de Imprensa da Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária.


Os representantes dos bancos ficaram de verificar a possibilidade de estudar o assunto na mesa temática de Segurança Bancária.


Os dirigentes sindicais cobraram também o fim das demissões e a concessão de estabilidade no emprego para as vítimas de assaltos e sequestros por 36 meses. "O bancário demitido sofre dupla violência: é sequestrado e ainda perde o emprego", denuncia Juvandia Moreira, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo.


"Para os bancos, o empregado tem sempre de comunicar os sequestros, mesmo que haja vidas em risco. Não concordamos com isso e nem a Justiça concorda. Eles já perderam muitas ações judiciais em que foram forçados a reintegrar trabalhadores demitidos nessas condições", completa a dirigente sindical.


No entanto, os bancos não concordaram com qualquer garantia de emprego, alegando que a demissão é um "procedimento disciplinar" de cada instituição em caso de descumprimento de normas internas de segurança. 


"E a proteção à vida dos familiares sob a ameaça de revólveres de bandidos não tem importância?", questionou Carlos Cordeiro, indignado com a insensibilidade e a indiferença dos bancos.


"Os bancos não estão preocupados com a vida dos bancários sequestrados e a de seus familiares, mas com a defesa do seu patrimônio e com as normas disciplinares", avalia o presidente da Contraf-CUT.


Assistência às vítimas de assaltos e sequestros


Além de mais equipamentos e medidas de prevenção, o Comando defendeu mais assistência às vítimas de assaltos, sequestros e extorsões. 


"Mais do que atendimento médico e psicológico, os bancos têm que fechar o estabelecimento em caso de assaltos e sequestros, dispensar do trabalho os empregados no dia da ocorrência, emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) aos empregados que presenciaram a ação criminosa e assumir os custos de remédios e de tratamento para restabelecer a saúde", ressalta Ademir.


Entretanto, os bancos não aceitaram as reivindicações apresentadas pelo Comando, frustrando a expectativa dos bancários.


Adicional de 30% de risco de morte


A exemplo dos vigilantes que conquistaram adicional de periculosidade de 30% dos salários, através da lei nº 12.740/2012 sancionada pela presidente Dilma Rousseff, o Comando reivindicou o pagamento do mesmo adicional para quem trabalha em agências, postos de atendimento e áreas de tesouraria. 


"Esses bancários atuam no mesmo espaço físico dos vigilantes, devendo também perceber o adicional de periculosidade pela atividade de risco onde trabalham", defende Ademir.


Os bancos, porém, não aceitaram a reivindicação.


Mais vigilantes


O Comando reivindicou o cumprimento da lei nº 7.102/83, que prevê no mínimo dois vigilantes por estabelecimento bancário, inclusive no intervalo de almoço, bem como a aplicação do plano de segurança aprovado pela Polícia Federal. 


O descumprimento tem sido uma das causas das multas aplicadas nas reuniões da CCASP. "Queremos a presença de vigilantes sempre que houver bancários e clientes nos bancos", salienta Ademir.


O Comando ainda criticou a abertura de agências de negócios sem vigilantes e portas giratórias. Trata-se de modelo de atendimento inseguro, que vem sendo combatido pela categoria, inclusive com ações judiciais.


Os representantes do Comando defenderam ainda o envio de cópia do Boletim de Ocorrência Policial (BO) dos assaltos e sequestros para o sindicato e a Contraf-CUT, como forma de acompanhar os casos. Mas os bancos negaram a demanda, alegando que se trata de informações confidenciais.


"Saímos frustrados da negociação de segurança. Os bancos mais uma vez mostraram que priorizam a gestão do lucro em detrimento da proteção à vida de trabalhadores e clientes. Precisamos mobilizar a categoria e a sociedade para conquistar mais segurança", conclui Carlos Cordeiro. 

Fonte: Contraf

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